Por que você sente que não sai do lugar (mesmo se esforçando muito)
A verdade por trás da sua estagnação mental e emocional – e como sair desse ciclo
No ano passado, eu vivia à base de duas canecas cheias de café pela manhã; três empregos; Ia pra academia com sono; Uma porra.
Trabalhava como um maluco… pra ganhar uma merreca.
Eu tava pagando boleto de banco e nem via a cor do dinheiro.
E o pior: na minha cabeça, eu ainda achava que isso era produtividade.
Até que um dia, meu corpo me travou. Aí eu percebi que eu tava muito mal, mas não era burnout. Era algo diferente. Eu tinha entrado num modo zumbi.
Vivia estressado, ganhei peso, contava as horas para ser demitido, passava medo, estresse e tristeza todos os dias.
Minha produtividade caiu brutalmente, sem contar a saúde e até minhas entradas aumentaram (Deus me ajude).
Eu me sentia andando em círculos como uma barata tonta noiada de SBP.
Tentei meditar mas tinha zero constância e por fim ficava ainda mais frustrado.
E obviamente, meu descanso vinha sempre com uma sensação de culpa.
Mas hoje eu quero te mostrar o que realmente tava por trás disso — e como eu comecei a sair desse ciclo de destruição disfarçada de disciplina.
_____________
Vamos lá, como de costume, vamos usar o modelo Sonepsi - Sociologia, neurociência e psicologia para resolver essa situação.
1. Sensação de estar andando em círculos
Bauman escreveu que a falta de estruturas sólidas e referências consistentes nos traz uma falta de direção.
No mundo atual, tudo muda o tempo todo, inclusive o que parece "certo" ou "eficaz".
Todo dia aparece um maluco na internet dizendo uma nova forma eficaz de emagrecer, ganhar dinheiro e bla bla bla (eu sou um desses, foi mal).
Talvez bebendo em Campbell, percebo que faltam de rituais culturais claros pra marcar evolução pessoal/profissional.
Isso gera uma vida em loop: trabalho, conteúdo, rotina, scroll — sem transições reais de fase.
Como já me disse um amigo “saudade da época da festa junina na escolinha que escolhiam um par pra gente e tínhamos que aceitar.”
Temos psicologicamente um fenômeno de "pseudoação".
Veja bem, nosso cérebro cria circuitos de recompensa imediata (dopamina) nos fazem preferir recompensas de agora do que as do longo prazo.
Por isso, obviamente sempre vamos preferir à Nutella ao brócolis.
E é por isso que precisamos de sistemas claros de metas para que o cérebro consiga enxergar as consequências de maneira firme e tranquila.
Sem metas, você não percebe seu progresso, fica frustrado e volta pros hábitos negativos.
Você engaja em comportamentos que APENAS parecem progresso (estudar, planejar, anotar), mas na verdade são formas de evitar riscos (ação concreta, exposição, esforço).
Além disso, influencers mostrando o quanto são mais produtivos que você te levam à pensar por excesso e sentir que você precisa PARECER ocupado, que é o que chamamos de síndrome da performance.
Como resolvemos isso?
Na prática temos alguns autores como o Cal Newport que fala da importância de trabalho profundo e métricas boas resolver essa sensação de “caminhar no vazio”.
Além dele temos o James Clear que reforça: sistemas > metas, porque a consistência vence a motivação.
Eis o que você pode fazer e eu fiz:
Criação de metas claras trimestrais baseadas em output - dias treinados, posts publicados, páginas lidas, etc…
Também usei Método Kaizen (melhoria 1% ao dia), ao final de todos os dias passar para alguma IA de texto o meu dia e pedir qual a melhoria única que preciso fazer no próximo dia.
Ok, resolvemos o problema de se sentir andando em círculos, mas eu ainda precisava ser produtivo e precisava de dois ingredientes, qualidade de saúde mental e qualidade de descanso, pois então…
2. Baixa frequência e continuidade na meditação, mesmo com percepção de benefícios
Você sabe e não adianta esconder que vivemos em uma cultura da hiperconectividade e produtividade tóxica, turbinadas pelo neoliberalismo e pelas redes sociais que desincentiva práticas de silêncio e presença.
Até mesmo a ideia de viver presente no momento, mais velha que o Paulo Baier, foi “roubada” pelo Vale do Silício e a cultura do Grind, do Hustle (esses charlatões de produtividade infinitos que tem na internet) transformando uma ferramenta de contemplação em uma de produtividade.
Isso gera uma baita dissonância e desmotiva.
Como que ficar parado vai me fazer me movimentar melhor? Nosso cérebro não curte esses paradoxos.
E falando em paradoxo vem mais um; o valor de uma atividade é medido pelo que ela produz e não por ela em si.
Ou seja, a meditação que significa “fazer nada", aquietar o facho e calar a boca, se tornou um ato de contracultura.
Todo mundo - eu sei que você também, meu amigo - sente culpa de descansar.
Nossos pares batem palmas para quem corre; futebolistas, carros velozes, dinheiro fácil; não quem senta e respira como padres; monges; filósofos.
Agora aqui vem o pulo do gato; a meditação atua na parte do seu cérebro que consegue controlar a parte impulsiva, melhorando seu foco e suas emoções.
O problema é esses efeitos são lentos, acumulativos.
Se nossa cultura não consegue esperar 1 ano de academia e já toma bomba ou não consegue guardar dinheiro por 3 meses que já ta comprando coxinha no cartão de crédito, fodeu.
O cérebro prioriza tarefas com recompensa visível e rápida, e a meditação tem retorno mais sutil e de longo prazo, o que dificulta a criação de hábito.
Como eu resolvi isso foi:
Parei de enxergar a meditação como um meio para ser mais produtivo e sim uma atividade que me ensinasse a sentir mais prazer de estar vivo.
Fui lentamente desmamando meu vício de celular e trocando ele por meditação LENTAMENTE MESMO, hoje eu saio para caminhar sem celular, almoço sem celular e até lavo a louça sem.
Não se engane, eu ainda fico ansioso todas as vezes, mas a minha vida mudou completamente.
Meditação tem várias formas, mas se você ta começando, apenas fique 5 minutos de olho fechado sem ver nada.
Tente focar na sua respiração, se a mente divagar, tranquilo, apenas volte o foco.
A maioria das pessoas não sabe que está cansada até realmente pararem.
E talvez seja esse o problema: a gente nunca para de verdade.
Nosso sistema nervoso nem sabe mais o que é segurança, porque nunca deixamos ele desacelerar.
A luz da tela, o barulho do mundo, a ansiedade constante... tudo isso impede o descanso real.
Não o “descanso de estar deitado scrollando”, mas o descanso que regenera, que reconstrói, que te devolve ao jogo mais forte do que entrou.
E enquanto isso, a cultura repete que descansar é “perder tempo”.
Que estar sempre disponível é um mérito.
Que se você parar, alguém te ultrapassa.
Mas aqui vai uma verdade simples:
não é sobre velocidade. É sobre sustentação.
Quem aprende a descansar, sem culpa, joga o jogo mais longo e mais sólido.
Quer praticar isso?
→ Estabeleça ciclos ultradianos: 90 minutos de foco, 20 de desligamento.
→ Crie um ritual de desligamento digital antes de dormir.
→ Faça do descanso um ativo estratégico — não um prêmio.
Os que conseguem desacelerar com consciência…
… são os únicos que conseguem acelerar de forma consistente.
Nos vemos por aí,
— Fernando Bocchi